terça-feira, 26 de janeiro de 2010

A incrível história da mulher que queria emagrecer e acabou emagrecendo a irmã


Era uma vez duas irmãs que ainda estavam aprendendo a morar juntas e sozinhas. Como todas as boas irmãs e mulheres, elas se amavam e se pegavam também, afinal, briguinhas entre irmãos é uma coisa que não pode faltar nos contos modernos. Aliás, pensando bem... as irmãs da Cinderela até que brigavam bastante. Então, briga de irmãos é uma coisa que não pode faltar em história alguma.

Bom, voltando ao assunto, as irmãs compartilhavam uma característica quase genética: a síndrome do espelho distorcido (não só do provador [vide post anterior], mas de casa também). Apesar de serem lindas, gostosas e atraentes, elas sempre achavam que estavam acima do peso, e viviam brigando com a balança.

Uma das irmãs, a mais velha, tinha mais força de vontade contra o reflexo que lhe desagradava, e em um belo dia de sol começou a pensar diferente e agir diferente. Foi ao supermercado, comprou pão integral com mil grãos, leite hiper-desnatado, queijinho branco-quase-transparente, iogurte com -10 de gordura, frutas, peitinho de peru light... God, quanta coisa saudável, magra, colorida... Sentiu-se bem com isso. A geladeira ficou cheia de saúde, até começou a economizar energia. [Que bom, porque a conta do mercado ficou bem maior].

Enquanto isso, a irmã mais nova continuava fazendo seus lanchinhos noturnos com pão francês, presunto, mortadela, queijo prato, manteiga aviação, hambúrguer... Alface, nem pra enfeitar! Só que em um outro belo dia (a vida é cheio de belos dias) a irmã mais velha começou a sair muito para jantar. Vida social ativa, sabe como é. Bem empregada, dinheiro no bolso (espero que também saiba como é).

Do outro lado, a mais nova, cabisbaixa em casa, desempregada, contando moedas. Sem muito dinheiro para comprar seus quitutes, ela esperava a irmã sair de casa e corria para a geladeira, faminta. Ela devorava o que via. Ou seja: queijo branco, pãozinho integral, peitinho light, até alface, vejam só...

Até que em algum momento, a irmã mais nova finalmente descobriu que comida saudável também alimenta, sacia e é gostosa. Ela aprendeu a comer, tcha nam! Enquanto isso, a irmã mais velha ficou cansada de não encontrar suas fibras e alimentos magros em casa. Estava farta de comprar tudo aquilo e não achar mais na geladeira quando queria.

A vingança é um prato que se come frio – e com gordura. Ela, num súbito instinto de defesa, começou a comer as comidas da irmã mais nova, para dar-lhe uma lição, mostrar-lhe como era a sensação de desejar, comprar e... não encontrar uma migalha inteira para comer.

Caiu no pão francês, na mortadela, na manteiguinha aviação da irmãzinha... Integral?! Só o leite, com muito toddy.

E esse é o fim da história, “A Incrível História da Mulher que Queria Emagrecer e Acabou Emagrecendo a Irmã”.
É uma história que não tem moral. Tem só uns quilinhos a menos. E outros a mais.

domingo, 17 de janeiro de 2010

A maldição do espelho de provador




Definitivamente, muitas lojas de roupas femininas não sabem a grande e diretamente proporcional relação entre qualidade dos provadores vs. quantidade de vendas. Existe coisa mais broxante do que aqueles provadores com mil espelhos e uma luz branca azulada, fortíssima, digna de mesas de cirurgias? [sim, claro que existem coisas bem mais broxantes, mas não é o caso]. E, uma vez que a mulher tem acesso a essas cápsulas da maldade e inimigas da auto-estima, aquela luz forte e brilhante vai causar um delírio... o delírio da cirurgia plástica, da lipo, do silicone.

Por diversas vezes me encontrei amaldiçoando tais provadores e espelhos. E, em muitas outras, ouvi relatos de amigas. Quantas roupas lindas que ficaram para trás! Quantas blusas maravilhosas nas araras e desastrosas diante daquelas máquinas de pavor!

É que quando você sai de casa, veste uma roupa e se olha no espelho do seu quarto, tudo está bem. Ou mais ou menos bem. Daí, você sai para fazer umas comprinhas. Enche uma sacola de roupas, pega uma filinha e entra em um provador bem apertado e iluminado, com espelho para todo lado, quase uma câmara de bronzeamento artificial, só que geralmente tem um ar-condicionado.

Ok. Passo seguinte: você tira toda sua roupa para provar as lindas peças que te deixaram empolgada. Aí a merda está feita. Você olha para a direita, vê seu corpo quinhentas vezes em reflexos distorcidos. Olha para a esquerda, consegue enxergar a mais discreta das estrias láaaa naquele último reflexo. A pálpebra treme. A boca seca.

Vira para trás e não vê um bumbum cheio de celulite. Vê um conjunto de bumbuns lunares, cheios de crateras como se visse a lua com uma lupa. Olha para frente, desesperada, e vê que uma espinha nova nasceu no seu rosto. E uma pinta no seu colo.

“Meu Deus, sou a mulher monga!” é o que muitas pensam, diante da ilusão dos espelhos. Cada detalhe vira um chamariz sob aquela luz. Um espetáculo de circo. E, como se não bastasse, ainda há repetitivos reflexos, e reflexos, e mais reflexos da mesma coisa. É desesperador. Toda roupa que veste, não dá certo. É mais cruel que a nova televisão digital. Mostra tudo mesmo!

Aí, de dez peças que você teria certeza que levaria para casa, acaba levando duas. As mais comportadas, que uma vez vestidas não deixam muitos vestígios. Vai batendo uma tristeza, uma claustrofobia, o rosto esquenta [não falei que parecia uma câmara de bronzeamento?!] e você, se olha naqueles tantos reflexos deturpados, e faz uma pergunta aprendida desde a infância, mas em uma nova versão: “Espelho, espelho meu, existe um bumbum mais caído do que o meu?”.

Nessa hora você já começa a vestir a própria roupa. Junta tudo. Embola na mão o que não deu certo e talvez compre umas coisinhas. De volta ao espaço comum da loja, agradece a vendedora. Olha para sua amiga que está te esperando e vão embora. Quando cruza a porta, sua amiga pergunta por que não levou nada ou quase nada. “Vou guardar o dinheiro pra pagar uma academia...”, diz, você, com um sorriso amarelo e esperança de dias melhores.


Obs: Você amiga lojista, que tal investir de maneira diferente em provadores e aumentar sua lucratividade? Coloque um espelho daqueles que emagrece, uma luz que não seja de mesa de cirurgia [um tom mais amarelado cai bem, é confortável e esconde imperfeições], um incenso contra “mal olhado” [hahahahaha] e uma música sensual. Pronto! Não há nada melhor que um espelho amigo.
[Claro que há. Mas isso também não vem ao caso...]